O grande problema francês, como da maior parte dos Estados europeus, é económico. O país tem dificuldade em retomar o crescimento económico, gerar empregos e preservar o Estado Social.
Há décadas que o país das Luzes perde competitividade, no quadro global, e essa é uma das maiores ameaças a uma nação que sempre teve os melhores patamares de desenvolvimento no mundo.
Porém, não obstante este ponto central, a tragédia de Toulouse vem baralhar as opções eleitorais e, por umas semanas, as preocupações vão centrar-se na forma como lidar com o terrorismo e a imigração, assuntos que, amiúde, estão na ordem do dia em França, quer pelas causas da Frente Nacional quer pelas políticas de Nicolas Sarkozy, inscritas na agenda do país.
O terrorismo, em abono da verdade, é, no mundo Ocidental, um dos problemas sempre presentes desde o 11 de Setembro de 2001. Todavia, a maioria das nações ocidentais só lida com o tema quando este se faz sentir de forma trágica, caso contrário, até há um sentimento predominante na população de que nem vale muito a pena prestar atenção à matéria, pois isso só acontece aos outros. Ora não acontece aos outros, está no seio das nossas sociedades. Não vale a pena continuar a ignorar.
O que se pode começar a considerar lamentável, nesta disputa presidencial francesa, é o emergir, de uma forma totalmente hipócrita e sem respeito, do tema do terrorismo e, sobretudo, da imigração, com finalidade meramente eleitoral, quando há matérias, como esta, que não podem ser tratadas como mera arma de arremesso político, pois representam grandes riscos para o país, a nível cultural, religioso, económico e, especialmente, social.
A extrema-direita já fez saber que o Governo tem medo de intervir, com mão-de-ferro, nos bairros problemáticos e, por isso, o sucedido em Toulouse é resultado da impunidade. O Governo de Sarkozy voltou a carregar na tónica, ainda que de modo suave em relação a recentes declarações do próprio Sarkozy e do seu Ministro do Interior, da necessidade de punir a qualquer custo, num discurso claramente óbvio de procurar associar o Islão ao terrorismo e, com esta premissa, legitimar a expulsão de milhares de imigrantes. Porém, há um senão, muitos dos jovens dos banlieue são cidadãos franceses (não era o caso de Merah), ainda que os próprios não se sintam como tal, isto é, nem reconhecem qualquer identidade do país de origem dos pais e/ou avós, de antigas colónias francesas, nomeadamente as do norte de África, nem se sentem pertença do país em que nasceram, a França, a qual não lhes apresenta qualquer caminho de futuro.
Em certa medida, este também é um dos sinais de decadência que a França apresenta, não saber lidar com o futuro e qual o caminho que o país das Luzes pode oferecer às novas gerações.
Quanto à eleição presidencial, se até há pouco tempo a vitória de Hollande seria mais do que provável, tendo o tema da economia um destaque sem concorrente, pois os últimos cinco anos de Sarkozy representaram o oposto do que prometera em 2007, com a entrada do tema terrorismo com a questão da imigração associada, as contas voltam a baralhar-se e qualquer um pode singrar. Hollande, Sarkozy e Le Pen, mas também Mélenchon. A corrida está aberta e a exploração dos sentimentos mais primários tenderá a destacar-se, numa visão dicotómica, com possibilidades de gerar ganhos eleitorais, mas a médio prazo com nocivas marcas sociais.
Sarkozy, agora, se quiser bem sucedido, basta seguir a estratégica de campanha de George W. Bush em 2004, para ser reeleito. Jogar com os valores da nação, independentemente do resto, e assumir-se como o único capaz de lidar com a racaille.
Marine Le Pen não deixará de passar este momento para reconquistar o eleitorado que tem vindo a perder, empunhando, ainda com mais força, as causas da sua formação, procurando demonstrar como a FN sempre esteve correcta na identificação e solução dos problemas.
Hollande, para ser bem sucedido, precisa de não cair nas ciladas que os seus oponentes à direita lhe irão colocar constantemente, mas para isso conta com um apoio importante, o de Manuel Valls.
Veremos como decorre a eleição, agora que estamos a poucas semanas de uma escolha decisiva para a França e a UE.
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